Para compreender os novos rumos da comunicação, é necessário buscar referências no cotidiano dos consumidores contemporâneos. Por este motivo, o IBOPE Media desenvolveu o Antropomedia, estudo que traz reflexões sobre o consumo, interação e significância dos meios na vida das pessoas. A partir de premissas etnográficas e antropológicas, o projeto procurou desvendar os hábitos e as novas experiências midiáticas em 10 países da América Latina. Foram mais de 60 casas visitadas e 110 horas de diálogo com homens e mulheres de todas as classes sociais, consolidados em um relato da observação e da vivência combinado com as informações oferecidas regularmente pelo IBOPE.
Hoje em dia, as mídias e tecnologias tornaram-se poderosas ferramentas de interação, capazes de redefinir todas as fronteiras da cultura de um povo. Com 98% da população na América Latina sendo telespectadores, a televisão é um meio absoluto. No Brasil, inclusive, 64% tem mais de um aparelho em casa. O rádio é ouvido semanalmente por 70% da população, número maior que a média dos latino-americanos, 66%. Quando falamos de jornal, a penetração é de 37%; já as revistas são lidas por 22% dos brasileiros. Mas como, quando, onde e por que esses meios são consumidos?
O rádio desempenha um papel fundamental no dia a dia do brasileiro, especialmente por ser uma importante fonte de notícias que podem ser disseminadas com agilidade. Exatamente por isso, o horário mais comum para escutar a rádio é pela manhã e principalmente no trabalho. Porém, a sensação de que este meio é um amigo que está sempre ao seu lado é bastante evidente: 39% ouve para se distrair das tarefas habituais. Nas entrevistas pessoais realizadas durante o projeto, não eram incomum depoimentos de pessoas que diariamente sintonizam seus aparelhos enquanto se aprontavam para o trabalho, arrumavam a casa ou até quando já estavam na cama, prontos para dormir. Mesmo com o surgimento de novas plataformas, o aparelho de rádio comum é o mais utilizado (71%), seguido pelo aparelho de automóveis (26%) e, em terceiro lugar, os aparelhos celulares (17%).
Quando pensam em jornal, informação é a primeira palavra que surge e a imagem de um professor vem à cabeça. No Brasil, 94% dos leitores relacionam o meio com informação e o período do dia em que costumam ler o jornal é pela manhã, quando as notícias estão frescas. Ele também tem forte presença digital, uma vez que 25% dos internautas leem online. Outra mídia impressa discutida foi a revista. Enquanto na América Latina muitos dos entrevistados tinham uma associação com este meio bastante ligado à celebridades, no Brasil elas são bastante associadas à informação – 67% inclusive consomem revista por este motivo.
A televisão é bastante associada à diversão, pois 60% dos telespectadores brasileiros afirmaram que a assistem porque os entretém. Consequentemente, o prime time da televisão se apresenta geralmente no horário dedicado ao lazer, entre as 18h e 00h. Notou-se que, nesses momentos, a TV assume o papel de unir as pessoas da residência, já que todos se juntam para assistir a mesma programação. Um dos entrevistados inclusive afirmou que todos na sua casa ficam um tanto desnorteados quando acaba a força, já que a dinâmica da residência está fortemente centrada na televisão. Justamente por isso ela foi considerada como um membro da família em que todos confiam e que está sempre presente.
Já a internet representa um relacionamento íntimo, como um namoro, por exemplo. Ela é associada à interação, não somente por ser utilizada para se relacionar com outros usuários, mas também por integrar outros meios, passando a ser enxergada como uma plataforma. Entre as razões para acessar a internet no Brasil, 74% usa para se informar, 56% para entretenimento, 48% por gostar de um site específico e 44% para distração. Além de multifacetada, pode ser acessada de diversas formas e locais.
É interessante notar que o prime time da internet tende a ser o mesmo da televisão. O período em que mais usuários acessam é de noite, no único tempo livre do dia a dia. Com isso em mente, a atenção fica dividida entre as diversas tarefas e o cenário se torna favorável para o fenômeno Social TV. No Brasil, 54% dos internautas veem TV enquanto acessam a internet e, desses, 38% fazem comentários durante as exibições. Nas regiões de São Paulo e Rio de Janeiro, entre esses que comentam os programas, 80% já mudou de canal ou ligou televisão para ver uma programação sugerida ou comentada em mensagem que recebeu pela internet.
Apesar de o desktop ser o aparelho mais comum para se conectar, mais da metade dos brasileiros já acessam pelo notebook e 39% pelo smartphone. Um terço da população já possui à sua disposição pelo menos três tipos diferentes de telas. Isso porque conveniência e mobilidade se tornaram palavras-chaves em um mundo cada vez mais tecnológico e convergente e acompanhar de perto este cenário em constante mutação é essencial. Neste contexto de desafios do cotidiano, foi proposta a seguinte pergunta aos entrevistados: se você pudesse escolher um super poder, qual seria?
Entre as opções disponíveis, encontravam-se a habilidade de voar, ler pensamentos, aprendizado instantâneo, ser invisível, armazenar grande quantidade de informação, ser capaz de fazer varias coisas de uma só vez. A resposta mais popular, na verdade, foi o desejo de ter o controle do tempo. A falta de tempo é a grande culpada pela dificuldade em balancear obrigações, lazer e descanso. Não é por menos que um entrevistado afirmou que “atualmente procuro buscar os meios que mais se adaptam à minha rotina louca”. Agora, mais do que nunca, estamos oficialmente na era do conteúdo líquido e compreender como cada meio é consumido e seu significado neste cenário é essencial.
Razões para consumir os meios
Informação, entretenimento ou distração: cada meio desempenhando diferente papéis no cotidiano dos brasileiros
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